O que é ansiedade?

11/22/20245 min ler

a man riding a skateboard down the side of a ramp
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Quem nunca sentiu ansiedade pelo menos uma única vez na vida? Vivemos em um tempo onde tudo corre. Todos são ensinados que estar um passo à frente já não é uma vantagem, mas uma necessidade básica para ser um profissional de sucesso.

Como se não bastasse os apelos da cultura ao redor, muitos ambientes se tornaram locais de grande estresse, fazendo com que a saúde mental impacte diversas áreas, até o trabalho.

Nessa Sociedade do cansaço (HAN, 2015), a necessidade de alta performance, resultados amplos e positivismo ininterrupto leva o indivíduo a uma nova experiência de adoecimento. Como diz o autor, o termo doença se desassocia do vírus, ao intruso externo, para se colar ao mental, as demandas existenciais de uma sociedade que cada vez mais cobra resultados do indivíduo.


Consequentemente, o adoecimento assume não só nova fisionomia, mas um novo nome. Dentro do grande leque de transtornos, traumas e fobias encontramos popularmente a ansiedade como uma dessas patologias devastadoras.

O que é ansiedade, afinal?


Para um indivíduo que sofre com uma ansiedade descontrolada, a afirmação mais importante e fundamental para seu processo é que a ansiedade em si não é uma patologia.

Pelo contrário, pode-se entender a causa da ansiedade como uma reação natural do organismo que, na verdade, garante a sobrevivência do indivíduo quando controlada e associada aos instintos.

Por fim, dizem outros especialistas que “a ansiedade pode ser interpretada como expressão do que somos, estando presente quando experimentamos a preocupação, a lembrança da finitude e da morte…” (TAMELINI M., MESSAS G., 2022). Assim, podemos olhar o tema assumindo 3 visões essenciais, quais sejam:

1º Resposta biológica


De forma ampla, os sinais da ansiedade são consequências de uma cadeia de respostas neuronais. O circuito do medo é o grande responsável pelas respostas ansiosas. Em especial, são as amígdalas que, ao receberem as informações por estímulos, respondem com os sinais mais comuns da ansiedade (HAKME, SANTOS, 2013).


Como resultado, temos “aquelas reações de luta-fuga para afastar o perigo, como é o nosso objetivo até hoje, ou seja, lutar, enfrentar ou fugir”, diz a psicóloga Elcineia Figueiredo.

2º Visão antropológica

Segundo estudiosos comentadores do pai da psicanálise, a ansiedade é um modo do indivíduo “evitar o contato com o sofrimento atual e retornar à fase do desenvolvimento onde nos sentimos protegidos e acolhidos.” (DE OLIVEIRA, DOS SANTOS, 2019).

Assim, podemos dizer que, ligado diretamente com o desenvolvimento da personalidade do sujeito, a ansiedade é fruto das estruturas neuróticas. Isso quer dizer que a ansiedade como sintoma, seria reflexo da dificuldade de se lidar com a carga emocional de um evento que, por sua vez, manifestar-se-á através de sintomas.

3º Experiência existencial


Uma das definições mais complexas da ansiedade, relaciona-se à crise existencial presente em cada um dos indivíduos. Pensadores como Kierkegaard e Heidegger, trazem o tema como uma desestruturação.

O ansioso, e aqui já dizendo do patológico, possui uma forte fragmentação do eu que implica em consequências biológicas. Se em Freud a causa da ansiedade é essa interiorização, para os existencialistas é a falta de interiorização, a falta de autopercepção, que leva o indivíduo a se perder de si mesmo.

É, então, segundo uma abordagem existencialista, “mais do que apenas uma emoção, não sendo o oposto da atividade ‘sintética’ do eu, a pessoa em sua busca por totalidade e significado, é uma fragmentação do eu, levando ao surgimento de forças biológicas caóticas e sem forma” (TAMELINI M., MESSAS G, 2022)

Sintomas da ansiedade

Um dos maiores pensadores da pós-modernidade é Michael Foucault. Em um dos seus textos, denominado A loucura, a ausência de obra (FOUCAULT, 1964), o pensador afirma que a sociedade chama de doentes aqueles que “deixam de produzir''.

Assim, apresentaremos alguns sintomas comuns quando se está em uma situação de nervosismo: como uma entrevista ou um encontro. Considerando isso, tais sintomas só são patológicos quando afetam o cotidiano, impedindo uma vivência livre e saudável do indivíduo.

Sites de informação costumam dividir os sintomas em psicológicos e físicos. Porém, artigos acadêmicos chegam a dividi-los em quatro subgrupos (FALCÃO, 2020). São eles:

  • 1 º Sintomas físicos – palpitações, batimento cardíaco acelerado, falta de ar, dores no peito, calafrios, náusea, vômito, tremores, diarreia, boca seca...

  • 2º Sintomas cognitivos – medo de dano físico, sentir-se incapaz de enfrentar certa realidade, medo de avaliações, memória fraca, dificuldade de raciocínio, pensamentos disfuncionais...

  • 3º Sintomas comportamentais – fuga, agitação, imobilidade, dificuldade na fala...

  • 4º Sintomas emocionais – nervosismo, tensão, irritabilidade, impaciência...

Nesse ponto, é necessária uma capacidade de autopercepção. Como dito, a ansiedade torna-se perigosa à medida que impede o indivíduo de viver ativamente e realizar a sua potencialidade.

Em diversos momentos da vida, é possível ser afetado por esses sintomas, cabe a nós sermos capazes de percebermos o grau de impacto nesses no nosso cotidiano.


Lidando com a ansiedade


Após olharmos para o fenômeno que, junto com a depressão, vem se tornando a doença do século, é necessário construirmos uma forma de lidar com ela no cotidiano. Após o exposto, não podemos deixar de falar que os sinais de ansiedade não são tratados em um passe de mágica.

Pelo contrário, se a ansiedade é uma característica do Homem, parece mais lógico que o homem seja capaz de lidar consigo mesmo e, assim, aprender a conviver com a ansiedade biológica, ao invés de ser engolido por ela.

Um grande teórico da psicologia, Carl Rogers, afirma que o homem possui uma finalidade existencial de atualizar suas potencialidades (ROGERS, 2017). Influenciado pelas correntes existencialistas, o pensador aponta um caminho de desenvolvimento que deve ser percorrido por e somente pelo sujeito.

Assim, é através de uma jornada de autopercepção e autoconhecimento que é possível ao indivíduo de fato ser sujeito ativo da sua própria história.

Em uma das noções de ansiedade, entendemo-la como uma lente, que por vezes não lê a realidade como ela de fato é. Cabe ao sujeito, assim como em um oftalmologista, reparar o desconforto da lente e corrigir por uma que melhor lhe ser. Isso, porém, toca a necessidade de uma forte implicação do sujeito.

Todavia, apesar de ser um caminho árduo, esse será o caminho mais eficaz para um resultado que não seja estanque, mas duradouro.

Caso queira desenvolver melhor esse olhar real sobre você, busque cada vez mais a autocompreensão. E, para isso, acompanhe nossos textos, certamente irão lhe ajudar muito na sua jornada.

REFERÊNCIA

DE OLIVEIRA, Karina Marques Ferreira; DOS SANTOS, José Wellington. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA EM ADULTOS–UMA VISÃO PSICANALÍTICA. ELETRÔNICA, 2019.
FOUCAULT, Michael; A loucura, a ausência da obra, La table ronde, nº 196: Situation de la psychiatrie, maio de 1964, os 11 – 21.

FALCÃO, Eduardo et al. Ansiedade. 2020.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Editora Vozes Limitada, 2015.

HAKME, Jamil; SANTOS, H. O Circuito Neural do Medo. Revista Faef. São Paulo, 2013.

ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. WWF Martins Fontes, 2017.

TAMELINI, M., MESSAS G.. Fundamentos da Clínica Fenomenológica. Editora Manoela, (2022).